Uma porta fecha-se. Uma porta abre-se. Há uma chave
no chão mas é muito pequena. Outra lá ao fundo mas muito grande. Alice no país
das maravilhas. Tenho a chave certa mas sou muito grande para a porta. Tomo um
elixir mágico que me torna pequenina e abro a porta. Uma porta muito grande mal
consigo avistar a fechadura. Tomo um elixir mágico e abro outra porta. Onde
estou? Quem sou?
“Alice, Alice por aqui” – ouço eu do fundo de uma
floresta.
Desço um escorrega de mil cores. Caio em cima de um
cogumelo que me “trampoliza” para um labirinto infinito de trilhos e caminhos
que se abraçam. Tocam à porta, espreito pela fechadura, é o carteiro. Oh o
carteiro !No reino não há cartas só há sonhos endereçados sem selo e envelope.
Continuo a correr em cima de flores que falam e sorriem, faço-lhes cócegas com
os dedos. Avisto um gato gordo e filosófico às riscas roxas e cor de laranja.
Fumava e falava comigo por sinais de fumo. Que tontinho que ele é.
- Gato carnaval, qual o caminho para sair daqui? –
pergunto eu com a mão na anca.
- Depende, onde é que tu queres chegar? – exclamava
ele com ar de dandy.
- Não importa muito o sítio… - digo eu desabafando.
-Então qualquer caminho serve ! – sibilava o gato
gordo.
Tudo louco nesta realidade. É a lagarta com
perguntas existenciais, o coelho que não me larga sempre a lembrar-me que estou
atrasada, que mundo diferente, que mundo delicioso. Troquei os pontos cardeais.
Brinco às escondidas com a minha sombra. O meu coração é bucólico. A minha alma
miscível com a das árvores. Tudo tem cheiro e textura. Aqui vivo a apoteose da
infância. Vive-se epítomes em segundos. Aqui não existe a teleologia. Baralho o
relógio e caminho ao contrário, tudo é como eu imagino.
De repente ficou escuro, alguém tinha desligado o
interruptor da luz. Um homem abre uma porta. Não percebo logo quem é. Espero
mais um pouco e quando ele se aproxima com aqueles ponteiros a abanar vejo que
é o Sr.º Relógio. Está na hora de acordar e de fechar todas estas portas. Agora
é hora de aconchegar o sonho na cama. Está na hora de ele abrir portas e
sonhar. Vamo-nos revezando para o manter sempre com a porta aberta.