quinta-feira, 31 de julho de 2014

Efemeridades do bronze!!

Ah que maravilha! Chega Agosto e ruma tudo a Sul! Preparam-se as malas varonilmente com os melhores vestidos, uma panóplia infindável de sapatos, bikinis e mais triquinis. Discute-se com os amigos à porta de casa porque “alguém” tem malas a mais e a gestão do espaço no carro está difícil. Esboçam-se sorrisos com puerícia e as portas do carro fecham-se. O quadro típico de Agosto.

É a época mais esperada em todo o ano. Fazem-se poupanças nos meses anteriores para “sobrar mais algum” para os sunsets e jantares. O ritmo do desporto também aumentou exponencialmente, há que estar em forma para pisar a popular e concorrida areia do Sul. Um sol abrasador, miúdas giras de bikini passeiam na praia, rapazes apóstolos acérrimos do novo conceito spornstar palmilham a costa apreciando as mais recentes novidades do mercado, as hormonas frenéticas sobrevoam o areal, tudo isto tem uma hermenêutica: bem-vindos ao All Garve! Ir para a praia já não se coaduna com aquele conceito idílico de paz e harmonia onde se sente a simbiose com o mar e se exorcizam as agruras que nos molestam a alma, não, nada disso. Quem quiser fazer esse exercício corte à direita na auto-estrada para a Costa Vicentina. No All Garve ir para a praia implica toda uma dinâmica complexa entrelaçada com uma indumentária “in”. Acabaram-se os chapéus à pescador e os velhos trapinhos. O desfile é tão intenso e os olhares tão peremptórios na orla das vaidades que qualquer rapariga à beira mar se sente um pouco constrangida com o que a circunda. Múltiplos problemas surgem nesses momentos, ou é a depilação, ou a barriga ou a celulite, ou sei lá o quê. Contudo elas assumem uma postura vertical, passam os dedos pelo cabelo, encolhem a barriga e olham no horizonte como se nada fosse, há que ter fé absoluta na chia, na linhaça, no chá verde e nos sumos detox! Os Homens que me perdoem mas as mulheres são muito mais astutas na arte da subtileza, mesmo que queiramos não olhamos para trás (pelo menos nos segundos subsequentes).
Final de tarde, o ambiente menos cálido convida aos sunsets, vislumbra-se os tão apreciados mojitos, gin tónicos e caipirinhas, celebra-se a vida, o amor ou…o efémero Verão. Ambientes afrodisíacos, polvilhados com sorrisos tímidos presos em palhinhas e olhares ainda com sal. Talvez se tenha coragem para falar com a rapariga que vimos à beira mar, pois já existe um maior catalisador.
Seguem-se os jantares com amigos, os passeios na red carpet de Vila Moura, a busca pelas pulseiras para entrar nas discotecas que estão em voga, as selfies que irradiam alegria e felicidade pigmentadas pelo bronze, o número de amigos no facebook aumenta e o mesmo enche-se de fotografias de transpiram bem-estar e jovialidade. Será que tudo isto é genuíno? Não estaremos a viver ambientes demasiadamente plásticos? Eu adoro o Algarve e todo o tempo que lá passo com os meus amigos, mas infelizmente os cenários que nos acariciam não são os mais epicuristas e a felicidade que se vive não me parece a mim que nasça do coração, pois é macilenta e temerária.
Aproxima-se languidamente o mês da ressaca, Setembro e as espectrais responsabilidades de mãos dadas com ele. Parece que nos sussurra ao ouvido “ pssstt acabou-se o bem bom, vá, começa a pensar naquilo que te espera.” Despedimo-nos do querido mês Agosto com um sentimento não amargo mas salgado, a nostalgia vai-se instalando. E é assim, vamos todos regressar para os nossos homónimos que nos esperam calmamente em casa, com as mesmas roupas e posturas, o heterónimo revoltou-se, fartou-se e foi de férias, mas regressa sempre, pois não vive sem ele!