quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Não lhe posso bater sou um Homem!"


Quem é que ainda não viu o video mais comovente dos últimos dias?
Este vídeo foi produzido por um jornal italiano “Fanpage” no âmbito de uma campanha de sensibilização versando acerca da reação das crianças relativamente à violência contra as mulheres. Após uma breve apresentação dos meninos com idades compreendidas entre os sete e os onze anos, estes são surpreendidos pela presença inesperada de uma menina, Martina. Depois da sua introdução e da timidez latente são exortados a ter atitudes carinhosas para com ela, que as têm, até que, na parte final, é-lhes dito para lhe baterem “dagli uno schiaffo forte!“. Pois as reações são inéditas e as expressões ímpares e tão veementes! As crianças demonstram uma grande relutância em desferir qualquer gesto malicioso para com Martina, é simplesmente maravilhoso o olhar espectral e de relutância que eles nos demonstram. Deliciam-nos com frases como “É uma rapariga não o posso fazer!”, “Porque não a posso magoar!”, “Porque sou contra a violência” ou “Porque sou um Homem!”. São três minutos de ternura pueril, que nos faz pensar na degradação exangue de valores.
A violência doméstica explícita ou velada, tem ganho contornos varonis e tem subido com passos vigorosos e sem pruridos ao palco internacional completamente nua e despojada de preconceitos. É um fenómeno cada vez mais descortinado nas nossas sociedades. Obviamente que a violência doméstica não atinge só mulheres, atinge também homens, crianças, pessoas idosas, deficientes e dependentes.
Só em Portugal, a mais recente contabilidade apresenta-nos o número de 42 mulheres mortas no último ano. Nos últimos dez anos,  verifica-se a morte de 398 mulheres vítimas de violência doméstica. Para além das 42 vitimas mortais, a UMAR sinalizou ainda 46 tentativas de homicídio contra mulheres perpetradas por ex-companheiros e familiares próximos. Contudo, embora estes números representem uma barbárie, parafraseando Maria Macedo, diretora técnica da Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV) “Uma mulher morta que seja é sempre um número altíssimo”.
A violência doméstica é transversal à cor, raça, religião, ou classe social, é universal, perversa e sórdida. Não é de todo um tema bonito ou agradável, muito pelo contrário é triste, feia e vergonhosa, destarte não pode ser silenciada por etiquetas sociais ou sentimentos votivos. Existem valores e princípios  sumptuosos, intumescidos de amor e bondade. Este vídeo deixou-me feliz, esperançosa e muito comovida com os princípios destas crianças. Faz-me acreditar que todas as historias de amor, independentemente do género, não tenham apenas um prefácio apaixonado, mas, que tenham também vertido nas últimas páginas palavras de respeito, companheirismo e de amor, na sua aceção mais bonita e humana!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015


2014 em Câmara ardente


O final do ano aproxima-se, encerram-se novos capítulos, alimentam-se esperanças, traçam-se novos planos, enfeitam-se expectativas. É como se estivéssemos a decorar varonilmente uma árvore de natal cheia de desejos brilhantes e promissores, tudo equilibrado sobre uma fé veemente, uma vontade sequiosa e obstinada, onde Murphy é um otimista! De chofre faz-se uma sinopse do peso do ano que carregamos sobre a nossa coluna vertebral, podendo esta oscilar sobre vários vértices e vontades. Pensamos no que correu bem no que correu mal, o que ficou por fazer, por dizer, as nossas falhas, enfim, damos por nós perante uma panóplia infindável de frases inacabadas, sem a correta pontuação e ênfase final, o normal, ninguém tem vidas perfeitas, nem mesmo aqueles que apregoam tal quimera.
Ora bem, nesta fase, toda a nossa fé resvala para 2015. No próximo ano é que vai ser, vou ser aquilo que não fui, não vou ser tão egoísta, vou ao ginásio, vou separar sempre o lixo (sem desculpas), fazer dieta depois do natal e o ano todo, vou ler 2 livros por mês, ver 3 filmes por semana e, outras coisas mais, guardadas pelas portas envergonhadas e lacónicas da vontade e do livre arbítrio. Tudo isto se encaixa em doze meses. A esperança tem doze meses, quatro estações e momentos que ultrapassam a permeabilidade destas barreiras por nós impostas.Mas afinal quem é cortou a vida  em meros pedaços de anos cada um com doze meses? Em doze meses conseguimos compartimentar e recalcar sentimentos, memórias, o amor, a dor e, acima de tudo quantificar e precisar. No ano de 2014 conseguimos precisar, infelizmente, a morte do grande Eusébio, os jogos olímpicos de Inverno na Rússia, o processo de anexação da Crimeia pela Rússia, o sequestro das 200 meninas na Nigéria, a Liga dos Campeões em Lisboa, o mundial no Brasil, os acesos conflitos na faixa de Gaza, a crise do BES, a atribuição à querida Malala Yousafzai do prémio nobel da paz, e, para finalizar, a prisão do engenheiro José Sócrates ( cumpri uma ordem cronológica!).
O tempo encontra-se assim segmentado, comprimido, e quando chegamos a Dezembro, a nível gráfico na nossa cabeça, fixamos o olhar no fim do calendário, não há mais meses e temos de erguer verticalmente a cabeça procurando um novo começo. Neste gesto está imprimido um  reset, uma amnésia rápida, convalescente e frenética para um mês que brilha com um placar luminoso, Janeiro. É tão bom poder dizer “o ano passado”, parece que já está bem longe de nós, está despegado, temos menos culpa, tão longe que tal acontecimento se encontra envolto num nevoeiro tão compacto que quase não se consegue perceber ou decifrar nada, e no entanto, tendo em conta os doze meses, poderá ter sido o mês passado, mas não interessa, foi o ano passado.
Por fim, mais um ano se aproxima, mais uma oportunidade de sermos melhores, de fazermos as coisas bem, de sermos bons uns para os outros e, de fazermos valer tudo a pena. Damos corda a nós próprios, insuflamo-nos durante a subida, enchemos os níveis de esperança e expectativa e içamo-nos através da inércia magnética para 2015. Esperemos que na descida no calendário até 2016 o melhor de 2014 seja o pior de 2015.
Um bom ano para todos!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015




“É solitário morrer em África!”

O ano de 2015 não começou da melhor forma, acho que todos os desejos e votos por nós vociferados para o mundo no crepúsculo de 2015 não foram suficientemente fortes para evitar os últimos trágicos acontecimentos que têm marcado de forma exangue a atualidade...
O atentado em Paris foi obsceno, um ato bárbaro perpetuado por pessoas envoltas em ideologias que não consigo perceber, mas, o que aconteceu na Nigéria com todos os requintes de malvadez a adornarem os atentados e as mortes ultrapassaram o abismo vilipendioso da maldade! “Os explosivos estavam colados à volta do corpo da menina que parecia não ter mais de dez anos”, disse a Reuters a uma fonte policial. Não consigo visualizar sequer que tal ato torpe e infame seja perpetuado no corpo imaculado e cândido de uma menina de 10 anos! Pelo menos 20 pessoas morreram no “Monday Market” na cidade de Maiduguri. Vive-se um clima de horror e terror latente na Nigéria, os radicais islâmicos estão a atacar as zonas em redor, perscrutando sequiosamente locais que emanem vida com uma vontade sanguinária desmedida. Algumas fontes relatam que os números já ascendem a 2000 mil mortos, sim, são mesmo três zeros, não há erro numérico....
Não quero resvalar para o cliché que mais tenho lido nestes dias, contudo é verdade, e após o desenrolar deste cenário depravado, não existiu nenhum momento mágico de união mundial onde os chefes de Estado entrelaçam os braços e caminhem com passos peremptórios e categóricos por uma capital do mundo rezando, defendendo ou honrando as pessoas que morreram inocentemente  na Nigéria!
O Arcebispo da cidade de Jos, Ignatius Kaigama, pediu encarecidamente que a mesma atenção fosse dada as militantes que atuam com cada vez mais violência no nordeste do país africano. É urgente a necessidade de ajuda neste país! Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, o arcebispo disse que o massacre em Baga é a prova de que o Exército do país não consegue conter Boko Haram e os seus séquitos. Porque é que o espírito não se multiplica? Porque não nos organizamos em prol da vida de pessoas iguais aquelas que morreram em Paris? O que é que muda? É a cor da pele? É a nacionalidade? É por não terem a Torre Eiffel ou o  Louvre? Somos diferentes em que afinal? Tem menos valor a vida de um nigeriano?
Estou dolentemente revoltada com tudo isto, e a situação Je suis Charlie veio aguçar de forma estoica ainda mais a minha liberdade de expressão, já que é um direito que a todos assiste, tal como o direito à vida, direito que tem sido plissado!
Este cruzar de braços mundial está a causar-me arrepios de insurreição, apetece-me  fazer-lhes cócegas com caracter de admoestação a esses braços amorfos e misantropos e ciciar-lhes " Estão a ser hipócritas!". Apesar de ter muita fé no mundo em que vivemos e achar que esta repleto de pessoas boas com uma enorme capacidade de amar e de ajudar o próximo, por vezes vejo que esses nobres princípios jogam às escondidas com o poder num exercício de sombras ardiloso, egoísta e ganancioso.
Valendo-me de John Done, será que não percebemos que a morte de cada Homem diminui-nos? Porque Nós fazemos parte da Humanidade, daí nunca devermos perguntar por quem dobram os sinos, porque  é por Nós!
Tenho mesmo de concordar com o editor do jornal “The Namibian”, Wonder Guchu “É solitário morrer em África!".



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Addio, Anita Ekberg, eterna musa di Fellini!

Anita Ekberg, musa inspiradora de Fellini, e de qualquer romântico, ficará para sempre eternizada nas nossas melhores memórias com a sua entrada inefável na fonte de Trevi , pronunciando de forma epítome três lascivas palavras  “Marcello come here!” no filme La dolce vita.

 Uma verdadeira diva, portadora de uma beleza de uma jovem deusa, palavras de Fellini, protagonizou o momento mais emblemático do filme com uma personagem bastante sensual e ousada no seu tempo, mas de certa forma pura, inocente  e livre. Sylvia Rank,  com a cinestesia dos seus gestos quando entra para a fonte e acaricia a água consegue fazer com que qualquer um de nós escorregue deleitosamente para aquele momento, fazendo-nos sentir absorvidos por ela, vestindo-nos a pele a temperatura e o amor o coração. Que dicotomia de ousadia e amor, qualquer coração devoluto varre sentimentos bolorentos!
Envoltos neste misticismo de La dolce vita, um filme franco italiano de 1960, indubitavelmente uma das obras mais inspiradoras da sétima arte, onde existe uma transição do neorrealismo para o simbolismo, é um dos filmes mais importantes da década de 1960 e do século XX. Notória a marca  de mudança  na forma de narrar opta pela construção em episódios em detrimento de seguir a linearidade objetiva de uma história.
Um filme  de um romantismo inexaurível, que só os a preto e branco são detentores, com  sequências noturnas enaltece laços fortes com o cinema noir e com o expressionismo alemão. Somos assim convidados a entrar num cenário festivo, com mágicos contrastes de luz e sombra, grandes sobrancelhas femininas onde nos é apresentado o verdadeiro âmago cavernoso da sociedade burguesa italiana através dos olhos do personagem Marcello Rubini (o fascinante Marcello Mastroianni) uma Roma moderna e requintada que apenas é purificada pela alma das personagens. Bastante longe do classicismo moralista e sempre colocando a tónica na religião, o cinema italiano impressiona pela ousadia, coragem  poucos freios.
La dolce vita marcou uma época, contudo Anita Ekberg marcou todos os nossos corações deixando-os frémitos com os seus olhos clementes, exuberância e alegria, estabelecendo e implementando um padrão de beleza incomparável.

A presto Diva!