quinta-feira, 15 de janeiro de 2015


2014 em Câmara ardente


O final do ano aproxima-se, encerram-se novos capítulos, alimentam-se esperanças, traçam-se novos planos, enfeitam-se expectativas. É como se estivéssemos a decorar varonilmente uma árvore de natal cheia de desejos brilhantes e promissores, tudo equilibrado sobre uma fé veemente, uma vontade sequiosa e obstinada, onde Murphy é um otimista! De chofre faz-se uma sinopse do peso do ano que carregamos sobre a nossa coluna vertebral, podendo esta oscilar sobre vários vértices e vontades. Pensamos no que correu bem no que correu mal, o que ficou por fazer, por dizer, as nossas falhas, enfim, damos por nós perante uma panóplia infindável de frases inacabadas, sem a correta pontuação e ênfase final, o normal, ninguém tem vidas perfeitas, nem mesmo aqueles que apregoam tal quimera.
Ora bem, nesta fase, toda a nossa fé resvala para 2015. No próximo ano é que vai ser, vou ser aquilo que não fui, não vou ser tão egoísta, vou ao ginásio, vou separar sempre o lixo (sem desculpas), fazer dieta depois do natal e o ano todo, vou ler 2 livros por mês, ver 3 filmes por semana e, outras coisas mais, guardadas pelas portas envergonhadas e lacónicas da vontade e do livre arbítrio. Tudo isto se encaixa em doze meses. A esperança tem doze meses, quatro estações e momentos que ultrapassam a permeabilidade destas barreiras por nós impostas.Mas afinal quem é cortou a vida  em meros pedaços de anos cada um com doze meses? Em doze meses conseguimos compartimentar e recalcar sentimentos, memórias, o amor, a dor e, acima de tudo quantificar e precisar. No ano de 2014 conseguimos precisar, infelizmente, a morte do grande Eusébio, os jogos olímpicos de Inverno na Rússia, o processo de anexação da Crimeia pela Rússia, o sequestro das 200 meninas na Nigéria, a Liga dos Campeões em Lisboa, o mundial no Brasil, os acesos conflitos na faixa de Gaza, a crise do BES, a atribuição à querida Malala Yousafzai do prémio nobel da paz, e, para finalizar, a prisão do engenheiro José Sócrates ( cumpri uma ordem cronológica!).
O tempo encontra-se assim segmentado, comprimido, e quando chegamos a Dezembro, a nível gráfico na nossa cabeça, fixamos o olhar no fim do calendário, não há mais meses e temos de erguer verticalmente a cabeça procurando um novo começo. Neste gesto está imprimido um  reset, uma amnésia rápida, convalescente e frenética para um mês que brilha com um placar luminoso, Janeiro. É tão bom poder dizer “o ano passado”, parece que já está bem longe de nós, está despegado, temos menos culpa, tão longe que tal acontecimento se encontra envolto num nevoeiro tão compacto que quase não se consegue perceber ou decifrar nada, e no entanto, tendo em conta os doze meses, poderá ter sido o mês passado, mas não interessa, foi o ano passado.
Por fim, mais um ano se aproxima, mais uma oportunidade de sermos melhores, de fazermos as coisas bem, de sermos bons uns para os outros e, de fazermos valer tudo a pena. Damos corda a nós próprios, insuflamo-nos durante a subida, enchemos os níveis de esperança e expectativa e içamo-nos através da inércia magnética para 2015. Esperemos que na descida no calendário até 2016 o melhor de 2014 seja o pior de 2015.
Um bom ano para todos!

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