Anita Ekberg, musa inspiradora de Fellini, e de qualquer romântico,
ficará para sempre eternizada nas nossas melhores memórias com a sua entrada inefável
na fonte de Trevi , pronunciando de
forma epítome três lascivas palavras “Marcello come here!” no filme La dolce vita.
Uma verdadeira diva, portadora de uma beleza de uma jovem deusa, palavras de Fellini, protagonizou o momento mais
emblemático do filme com uma personagem bastante sensual e ousada no seu tempo,
mas de certa forma pura, inocente e
livre. Sylvia Rank, com a cinestesia dos
seus gestos quando entra para a fonte e acaricia a água consegue fazer com que
qualquer um de nós escorregue deleitosamente para aquele momento, fazendo-nos
sentir absorvidos por ela, vestindo-nos a pele a temperatura e o amor o
coração. Que dicotomia de ousadia e amor, qualquer
coração devoluto varre sentimentos bolorentos!
Envoltos neste misticismo de La dolce vita, um filme franco italiano
de 1960, indubitavelmente uma das obras mais inspiradoras da sétima arte, onde
existe uma transição do neorrealismo para
o simbolismo, é um dos filmes mais
importantes da década de 1960 e
do século XX. Notória a marca de mudança
na forma de narrar opta pela construção em episódios em detrimento de
seguir a linearidade objetiva de uma história.
Um filme de um romantismo inexaurível, que só os a
preto e branco são detentores, com
sequências noturnas enaltece laços fortes com o cinema noir e com o expressionismo alemão.
Somos assim convidados a entrar num cenário festivo, com mágicos contrastes de
luz e sombra, grandes sobrancelhas femininas onde nos é apresentado o verdadeiro
âmago cavernoso da sociedade burguesa italiana através dos olhos do personagem
Marcello Rubini (o fascinante Marcello Mastroianni) uma Roma moderna e
requintada que apenas é purificada pela alma das personagens. Bastante longe do
classicismo moralista e sempre colocando a tónica na religião, o cinema
italiano impressiona pela ousadia, coragem poucos freios.
La dolce vita marcou
uma época, contudo Anita Ekberg marcou todos os nossos corações deixando-os
frémitos com os seus olhos clementes, exuberância e alegria, estabelecendo e
implementando um padrão de beleza incomparável.
A presto Diva!
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