terça-feira, 1 de abril de 2014

E se ninguém conseguisse mentir?

E se ninguém conseguisse mentir? E se todos nós fossemos obrigados à transparência da verdade? O que seria das nossas vidas e das nossas consciências? Até que ponto uma consciência tranquila é uma consciência verdadeira? Será que podemos ser assim tão maniqueístas?
Eu, penso que não. Não podemos viver sempre em duas cores tão fechadas que se encerram sobre si próprias. Não sou apologista da mentira eterna mas, também não sou apóstola de uma verdade prostradora. A verdade talvez seja perfeita para ciências exactas, mas não para a vida. Como se pode aplicar um conceito tão matemático e recto a uma vida tão literária com tantas curvas? Uma vida recheada de beleza, esperança e fé não se pode coadunar com a nudez de uma verdade certa, sem vírgulas, sem casas decimais. A verdade é um véu com cores infinitas, sombras intermináveis e reflexos isotéricos. A verdade deslinda-se e caminha sozinha, sonha e multiplica-se. A ambiguidade do núcleo da verdade vai do mar ao céu.
O celeuma desta questão é que o mundo inteiro sabe e acredita que um mais um são dois ou que dez menos cinco são cinco. Mas quando se fala em verdades que não têm forma e que não são palpáveis a verdade já não é assim tão verosímil. Quando se fala nos feitos de Aristides de Sousa Mendes, Nelson Mandela ou de Dalai Lama, há sempre alguém que diga que aquilo pelo qual pugnaram “não era bem verdade”. Esta obstinação pela certeza redonda e compacta desassossega-me. Toda a gente corre atrás da verdade, mas quando se desembrulha tropeçam nas buracos das dúvidas, inclinam-se de forma virtiginosa no abismo da incerteza e, ou dão um passo de fé ou um tiro no pé. Mas que verdade é essa tão tirana e ubiquista que trilha o seu caminho pelas cordilheiras vilipendiosas dos espaços da verdade? Onde começa uma meia verdade ou uma meia mentira?
A verdade está na nossa inteligência emocional, nos ouvidos do nosso coração, é acariciada pelos neurónios da sensibilidade. Mentiras? São verdades escondidas com parte da cauda de fora!




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