Hoje é um dia muito importante. Faz hoje
precisamente 60 anos que um herói nacional morreu. Um herói pouco conhecido e
reconhecido infelizmente…Ele é só a honra da nossa pátria e, nas palavras da
escritora Gisèle Allotini “se os Portugueses se parecem com Ele, são um povo de
cavalheiros e de heróis”.
Esse herói nasceu em 1885 em Cabanas de
Viriato, era um Homem infinitamente bom, um Homem justo! Um exemplo ímpar da
verdadeira grandeza de espírito. Um Homem que salvou milhares de pessoas
durante o holocausto! Pugnou até ao fim dos seus dias pelos seus princípios,
agarrado à máxima “Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos
homens do que a uma ordem de Deus”. Defendia que a “hospitalidade não tem cor nem é guiada
por qualquer sentimento que não seja a virtude humana de solidariedade perante
a desgraça desarmada, a desgraça inocente ou o apelo desinteressado”.
Fez tudo isto contra as ordens funestas superiores
e foi repreendido por isso. Expulso da carreira diplomática, afastado dos seus 15 filhos dispersos
pelo mundo, foi empurrado por dedos duros e impiedosos, directivas do governo
de Salazar, para a rua da miséria tendo de queimar as portas de sua casa para
se manter quente. Fazia parte da fila da sopa dos pobres, morreu na pobreza em
Lisboa no Hospital da Ordem Terceira e foi enterrado com as indumentárias da Ordem
dos Frades Menores, tal era a sua miséria extrema.
Quem era esse Homem que teve uma vida tão
injusta? Como pode um Homem tão bom ter tido um final tão frio e desconsolado? É
este o preço de uma consciência virtuosa?
Entristece-me a alma pensar em como a
vida e as circunstâncias podem ser tão lancinantes. Apetece-me gritar tão alto
e tão veementemente até que a minha voz recue a 1939, para penetrar aquela
atmosfera mórbida e dizer-Lhe que é uma pessoa inebriante. Apetece-me abanar a
sociedade daquela época, o poder modorrento e inexorável e dizer-lhes nos olhos
de uma forma tão profunda até lhes varar a alma que, Ele foi um dos Portugueses
mais importantes que nós tivemos…
Seis décadas se sucederam desde a sua
morte. A sua casa continua a lutar contra as intempéries. Vai desabando
lentamente, engolindo-se paulatinamente. Cansada e desgastada pelo último
inverno rigoroso vai-se vergando à inércia humana. Continua fechada, inerme e
sombria a casa da família de um Homem que foi o albor de muitas vidas, que
lutou contra o ambiente infausto da 2.ºGuerra Mundial, que abnegou a morte e o anti-semitismo,
que possibilitou a perpetuação de famílias, multiplicação de sonhos e que
protegeu o amor…
Esse Homem chama-se Aristides de Sousa
Mendes, era o exemplo máximo da bondade e da coragem que trilhou o caminho para
a liberdade e igualdade.
“Religião? Pouco importa, assina-se!
Origem “étnica”? Não tem importância,
assina-se!
Judeu, Católico, protestante? É tudo o
mesmo, assina-se!
Russo? Assina-se!
Apátrida?
Assina-se
Vou
salvá-los a todos”
Era a sua
promessa….
No meio do
desespero da pobreza, prostrado ao opróbrio, Aristides de Sousa Mendes chegou a
escrever uma carta ao Papa, à qual nunca teve resposta: "Há muito que espero que uma palavra de Vossa
Eminência possa consolar o meu coração inquieto, mas essa palavra ainda não
chegou (…) Há muito que perdi a confiança na justiça terrena, não, porém, na
justiça divina. Se andei mal em salvar os judeus das garras do Anticristo,
faça-me Vossa Eminência a caridade de mo dizer para que eu possa proclamar aos
meus filhos o bem e a justiça da minha conduta para que eles possam orgulhar-se
de seu pai.”
Sobem-me as lágrimas aos olhos comovidos
perante tal soberbo exemplo de bondade e de grandeza. Hoje é dia de uma vénia
mundial a Aristides de Sousa Mendes. Que a sua história se perpetue nos ecos do
vento intemporal, nos inspire e que se aloje de forma permanente nos nossos
corações para nos podermos tornar pessoas melhores, porque “quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”,
Aristides de Sousa Mendes salvou um mundo Inteiro!
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