terça-feira, 1 de abril de 2014

Os ponteiros do amor


Uma tarde solarenga de Primavera num banco de jardim! Que brisa deliciosa que me beija as bochechas. Fecho os olhos e deixo-me escorregar pelos sonhos deleitosos da estação. Que cheirinho a perfume das flores que espreitam dos canteiros envergonhados. A temperatura veste-nos a pele e a paixão o coração. Penso em ti. Há tempos vi-te da janela a passear no jardim, inspiravas alegria a cada passo e expiravas inspiração. Debruçava-me no parapeito da janela só para te ver mais perto, porque no amor estes poucos centímetros contam.
O relógio já deu 15h e tu não apareces. Não quero acreditar que foste roubar inspiração a outro jardim ou a outro coração, pensar nisso esmorece-me e encontro-me numa manhã de inverno.
Avisto um homem ao longe. É muito baixo para ser quem eu espero. Não podes ser tu.
De repente, o homem entra no jardim, mas o sol inexaurível brincava comigo e, impediu-me de lhe ver os olhos. O homem emanava desassossego e sabedoria nos passos. A curiosidade, esse catalisador feminino, encaminhou-me para ele numa dicotomia de desfaçatez e vergonha ao mesmo tempo. Algo me intrigava.
- Desculpe, o senhor por acaso não está à espera de alguém? – pergunto eu com avidez.
- Não, quem eu procurava já me abandonou há muito. Neste momento só erro pelos jardins para acalmar a saudade do meu coração que me corrói durante o dia. À noite saro as minhas feridas nas tabernas, pois os fantasmas noctívagos são mais obstinados. – respondeu-me aquela alma perdida.
- Que vida triste que o senhor deve ter… - confidenciei-lhe eu.
- Triste? Triste é não amar e viver do amor dos outros! Eu amei com todo o meu coração. Amei tanto que continuo a amar. Existe maior plenitude que a transcendência de um amor? – disse-me o senhor com os olhos muito arregalados, tão arregalados que até consegui ver o meu âmago perplexo.
Ele sentiu na minha expressão a minha anuência tácita e seguiu caminho, acariciando a cada passo todas as flores que via. Ganhei naquele instante consciência de topo o meu corpo e de todos os meus músculos. Percebi que o meu coração devoluto não se importa de esperar por ti todas as horas intermináveis debruçado na varanda. Quero estar pertinho de ti, dar-te beijinhos com inspiração, o meu amor florido e viver uma primavera eterna contigo.





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