Tudo passa (não é o que dizem?).
A primeira impressão é sempre dúbia e algo relutante, contudo, acaba por se
tornar amenizada, híbrida e posteriormente doce. Afinal, Timor-Leste é bonito!
Após ter vivido 5 meses na ilha do lafaek, os sentimentos convertem-se.
Viver em Timor é embarcar numa aventura, uma aventura onde se desconhece o
ponto de chegada ou as paragens intercalares, uma aventura destemida. É uma
ilha com uma história e cultura escrita a sangue, a qual ainda é bem presente
nos semblantes dos locais, tudo passa, mas a dor e a mágoa persistem sempre.
Quando se viaja e transferimos o nosso pesado invólucro, que se arrasta
pelo chão dos vícios, mimos e hábitos traiçoeiros é necessário criar uma distância
deste, sussurrar-lhe calmamente ao ouvido e ir despindo-o devagar, como se
fosse uma criança que fazer a birra. Assim ele vai cedendo, esmorecendo, as
curvas plissadas dissipam-se perdendo cor e ficando mais moles. Aí é altura de
o começar a moldar novamente e adaptá-lo, com calma e sensatez e educá-lo para
algo que é novo e desconhecido e explicar-lhe que o que é novo não é
necessariamente mau. Com tempo, as birras passam, a alma torna-se mais inócua e
predisposta. Tempo de iniciar a caminhada com uma mente ávida de experiências!

No café:
“Boa tardi mana, coca-cola?” – Malai (estrangeiro)
“Sim, há!” – Mana (rapariga)
“Óptimo! Coca-cola ida se faz favor!” – Malai
“Sculpâ Senhora não há..”- Mana
“Não há? Acabou de me dizer que tinha!” – Malai
“Há mas não tem!” – Mana
Este é o cenário mais hilariante em
Timor-Leste, e quem sabe está neste preciso momento a esboçar um sorriso
envergonhado, pois sabem que é assim quase todos os dias, “Há mas não tem!”.
Aqui tudo se move com pés de chumbo,
bem devagar devagarinho e com muita calma, os ponteiros do relógio arrastam-se
e oscilam paulatinamente. Há tempo para tudo, um tempo bailarino e harmonioso
sempre ao som das colunas das microletes românticas com nomes como “amo-te”,
“Saudade”, “Cristiano Ronaldo”, dos apitos de saudação persistente dos táxis e
das vozes inquietantes que nos assaltam com “ pulsa, pulsa, sim card?”. É
Timor-Leste, não nos podemos sobrepor ao relógio local, uma coisa são os nossos
tempos acelerados e conturbados, outra coisa é o tempo fleumático em
Timor-Leste, tempo mole em cabeça dura, tanto acaricia que conquista! Portanto,
temos aqui uma suave fricção, nada que não passe também, acabamos por nos
vergar e perceber que temos de respeitar esse tempo, um tempo cansado pelo
calor confortável que merece respeito!

Obrigada
Timor! Obrigada Timor por fazeres de mim uma pessoa melhor, por me reiterares a
ideia de que estamos em constante mutação espiritual, por me ajudares a
encontrar 10% de mim própria, por me ensinares que posso comer arroz e frango
com uma colher, que posso viver com menos daquilo que eu pensava, que posso
tomar banho de água fria e não me queixar, por me fazeres deixares de gostar de
expresso e apreciar café timor, por me tornar uma pessoa mais benevolente, pela
maravilhosa água de côco que me ofereces, pela companhia deambulante, por me
fazeres crer que a vida é aquilo que nós queremos que seja e por todos os
momentos e experiências boas que me ofereceste que fizeram crescer a minha
inteligência emocional!
Se isto fosse
quantificável teria de pagar um excesso de peso colossal, teria de me chatear
no aeroporto e tentar “subornar” a hospedeira tão querida do aeroporto de Díli,
o que me vale é que as máquinas do aeroporto, portadoras de uma tecnologia de
ponta, ainda só detectam a quantidade e não a qualidade!
Uma Malai em
Díli
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